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A (im)possibilidade de escolha em "False Positive"

Mesmo com as intensas e constantes discussões, há ainda muito o que se alcançar quanto a liberação feminina, principalmente quando se trata dos nossos próprios corpos. Partindo da maternidade compulsória até a restrição de escolhas perante a gravidez indesejada, da objetificação aos padrões de beleza inalcançáveis, até a ameaça e medo constantes de sofrer alguma violação psicológica, física e/ou sexual. A realidade feminina é exaustiva, e as vezes a sensação generalizada é de que não há escolha ou escapatória.


Portanto, se você reconhece todas essas problemáticas, é bem provável que as identifique e reflita sobre ao assistir False Positive, a nova produção da A24 Films dirigida por John Lee (que também assina o roteiro ao lado de Ilana Glazer, a protagonista do filme), que buscou inspiração em seus sentimentos de luto após vivenciar um aborto com a esposa, e a perda do pai com quem tinha muita ligação. Peter Pan, de J. M. Barrie, também foi uma grande influência para o diretor e roteirista, o que pode ser notado durante o filme.



Na trama, acompanhamos Lucy e Adrian Martin, interpretados respectivamente por Glazer e Justin Theroux, um casal bem sucedido profissionalmente que há dois anos tentam, sem sucesso, engravidar. Mas apesar da inicial relutância da mulher, os dois procuram o médico John Hindle (Pierce Brosnan), renomado especialista em fertilidade, esperando realizar o sonho da maneira mais natural possível.


Para a felicidade de todos, o procedimento é bem sucedido já na primeira tentativa, mas com a gravidez, vem também a desconfiança de Lucy de que seu médico, seus métodos e sua equipe estão tramando algo contra a saúde de sua filha ainda não nascida. A partir de então, entramos em tensão crescente conforme ela tenta descobrir se há algo de errado com ela ou com as pessoas ao redor, nos levando também a desconfiar de tudo e de todos.



E talvez, um dos maiores problemas de False Positive esteja justamente nesse emaranhado de sugestões e possibilidades que ele tenta forçar. Apesar das mensagens serem claras e das atuações serem bem convincentes e competentes, passamos praticamente o filme todo vendo Lucy sendo descredibilizada e tendo suas vontades ignoradas, como se o cerne da narrativa já não fosse o suficiente para sustentar todo o seu desenvolvimento.


Claro que as questões levantadas sobre luto, maternidade e controle sobre o corpo feminino são relevantes, e não devem ser completamente descartadas, por mais que pudessem ser trabalhadas e conectadas de melhor forma. Mas mesmo que a tentativa pareça genuína, a sensação que fica é a de que poderia ter sido muito mais, se optasse por menos. Em meio a tantos outros filmes sobre o "terror da gravidez" e as inúmeras (e quase sempre infundadas) comparações a O Bebê de Rosemary, ele aparenta ser só mais um.


 

False Positive (2021)


Direção John Lee

Duração 1h32min

Gênero(s) Terror, Suspense

Elenco Ilana Glazer, Justin Theroux, Pierce Brosnan +

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