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Foto do escritorTati Regis

A Maldição do Lobisomem

Todo fã de cinema de terror e de filmes de monstros há de concordar que após os grandes clássicos da Universal, a Hammer foi a grande disseminadora dessas criaturas horripilantes e amadas. Mas, não só de horror viveu a Hammer, a produtora inglesa também se dedicou à comédia, ao noir, à ficção científica, aos thrillers e até aos seriados de televisão. Porém, seu maior momento de glória foi com as produções de terror tendo seu auge em meados dos anos 1950 até os anos 1970. Foi nesse ínterim que filmes como A Maldição de Frankenstein (1957), Drácula (1958), A Múmia (1959), O Fantasma da Ópera (1962), Drácula: O Príncipe das Trevas (1966), todos dirigidos por Terence Fisher, inclusive o filme que iremos abordar hoje aqui: A Maldição do Lobisomem (1961).


O diretor foi um dos principais colaboradores da companhia e o responsável por dar cor aos monstros em suas adaptações, assim como trazer discussões sobre questões morais, religiosas, mas também com uma pegada sombria e sexual. E isso fez boa parte da crítica da época torcer o nariz para seus filmes, ao contrário do público, que os recebia muito bem, transformando as produções em sucessos comerciais. Sua adaptação do clássico monstro Lobisomem revela muito disso. Foi também de Fisher a "culpa" de transformar Christopher Lee e Peter Cushing em dois atores quase indissociáveis da produtora.



A história de A Maldição do Lobisomem traz Oliver Reed em seu primeiro papel de destaque, mas antes de aparecer no filme (e isso só acontece com quase 50 minutos), a trama se desenvolve de forma lenta, com Fisher montando toda a cama e desenvolvimento da lenda que posteriormente se revelará uma maldição. Tudo se passa numa Espanha inquisidora com um mendigo chegando a um vilarejo em pleno dia de casamento do poderoso Marquês que, após humilhar o pobre coitado, o prende em seu calabouço por comentários considerados inapropriados. O homem é praticamente esquecido lá, tendo contato apenas com o carcereiro e sua filha, uma criança muda que o alimenta com restos de comida.


Quinze anos se passaram e a menina virou uma linda mulher (Yvonne Romain), que um dia, após resistir às investidas do Marquês, é aprisionada na mesma masmorra com o mendigo. Ela é estuprada por ele, que morre logo em seguida. Após uma série de acontecimentos, ela foge, e grávida, é encontrada e acolhida por Don Alfredo Corledo (Clifford Evans) e por sua bondosa e amorosa governanta Teresa (Hira Talfrey). A mulher morre logo após dar à luz e no local, todos acreditam que a criança, batizada de Leon, por ter nascido no Natal, se tornará um lobisomem. O jovem, vivido pelo ator mirim Justin Walters quando menino e por Oliver Reed quando adulto, é castigado duas vezes: pela maldição e pela forma violenta de sua concepção.



É um filme que impressiona muito pelo tom triste e trágico que toda a mitologia se desenvolve, e isto fica claro desde a primeira cena quando é dado destaque aos olhos de uma criatura triste que, mesmo sendo monstro, é cheia de "humanidade". O foco aqui não é tanto o lobisomem, mas sim o sofrimento humano em detrimento ao lado animalesco. Por mais que lute contra, ele não consegue se controlar e sofre ao saber de suas maldades. Apaixonado pela filha de seu empregador, Cristina (Catherine Feller), ele quer fugir com ela, pois acha que ao lado da amada, irá conseguir dominar a fera que tem em si e então toda a problemática abordada no filme e já citada acima sobre religiosidade, moral e heroísmo vem à tona. Lembra muito a sequência final do clássico da Universal, Frankenstein (1931), quando os seres humanos se mostram mais monstruosos que os próprios seres a quem julgam monstros. Um final amargo que nos remete imediatamente ao início do filme, inclusive é único da Hammer dedicado ao mito do licantropo e com uma abordagem totalmente diferente daquela interpretada por Lon Chaney em 1941.


Oliver Reed agradou tanto a produtora inglesa que foi chamado para outras produções como The Pirates of Blood River (1962, John Gilling), Captain Clegg (1962, Peter Graham Scott) com Peter Cushing, The Damned (1963, Joseph Losey), Paranoiac (1963, Freddie Francis) e The Scarlet Blade (1963, John Gilling). A produção de Terence Fisher rendeu uma adaptação para os quadrinhos de 15 páginas para a revista The House of Hammer em 1978 e uma menção no filme Um Lobisomem Americano em Londres (1981) de John Landis. A Hammer que detinha um orçamento limitado, filmou A Maldição do Lobisomem, história originalmente passada em Paris, na cidade de Madri, pois tinha se construído lá cenários, inclusive uma igreja, para um outro filme que se passava no período da inquisição espanhola e que foi arquivado pelo departamento de censura britânico. É um filme que mesmo com seus sessenta anos, merece ser visto, lembrado, discutido e ter seu lugar junto aos outros clássicos da produtora.


 

A Maldição do Lobisomem (1961)

The Curse of the Werewolf


Direção Terence Fisher

Duração 1h31min

Gênero(s) Terror

Elenco Oliver Reed, Yvonne Romain, Clifford Evans +

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