Não é novidade o canibalismo ser tratado no cinema de terror como crítica social, política ou econômica, mesmo que nem sempre de forma explícita. Atrelar o consumo de carne humana com o debate sobre o consumo de carne animal também não é nada novo, e inclusive vimos essa discussão em Grave, o aclamado longa de estreia de Julia Ducournau. Então não me foi surpreendente a presença do tema em Barbaque, apesar de reconhecer que o filme aborda a questão em um nível completamente diferente.
O humorista Fabrice Eboué é o homem por trás do projeto, assumindo não só a direção, como também o roteiro ao lado de Vincent Solignac, além de protagonizar a história no papel de Vincent, um açougueiro que vê sua vida ruir com um negócio falido, uma esposa infeliz e uma filha renegando os hábitos familiares. Para piorar a situação, um casal de amigos bem sucedidos e as mudanças geracionais não o deixam esquecer-se do seu fracasso, o que o leva a tomar atitudes drásticas na tentativa de retomar sua honra.
A provação começa quando o casal está voltando para casa, após uma confraternização, e reconhece um dos veganos que vandalizou o açougue da família. Motivado a confrontar o jovem rebelde, Vincent acaba o atropelando por acidente, e consequentemente escondendo o corpo em casa para evitar sua ligação com o crime. Mas os erros não param por aí! No dia seguinte, sua esposa Sophie (Marina Foïs) vende a coxa do rapaz pensando que era presunto, dando início a um frenesi na clientela sedenta pela carne diferenciada.
E o que poderia ser a ruína do casal, revela-se como uma verdadeira dádiva. Munidos pelo conhecimento gastronômico de Vincent e pelo interesse em documentários de true crime de Sophie, os dois se apoiam na máxima de “sem corpo, sem crime” para salvar os negócios e o próprio casamento, uma vez que o êxtase causado pelo sucesso e pela caça de veganos reacendeu a chama da paixão, que há muito tempo estava apagada.
No entanto, por mais que a ideia toda pareça absurdamente cômica, é interessante ressaltar que a comédia ácida de Barbaque pode dividir opiniões. Para além da óbvia briga entre veganos e carnívoros, o filme não se limita a atingir somente estes grupos. Após ultrapassar a linha que separa os humanos dos animais, os personagens perdem todos os escrúpulos e passam a ver as pessoas próximas como meros produtos passíveis de classificação de acordo com o potencial de sabor e rentabilidade de suas carnes.
Mas tirando o humor “politicamente incorreto” que pode ser um impedimento para alguns espectadores, há outros pontos para aproveitar da produção. Com um gore muito bem feito, as cenas de morte (e posteriores desmembramentos) são sanguinolentas mesmo com uma estética mais limpa. As referências e paralelos com casos de crimes reais também podem agradar os fãs dessa literatura, e isso sem contar na premissa relativamente inovadora, se tratando de filmes sobre canibalismo. É algo que vale a pena conferir por conta própria, visto que suas particularidades podem ser boas ou ruins de acordo com quem assiste.
O filme está disponível no XVIII Fantaspoa e pode ser assistido gratuitamente através da plataforma de streaming Darkflix entre os dias 29 de Abril e 1° de Maio.
Quanto Mais Malpassado Melhor (2021)
Barbaque
IMDb | Rotten Tomatoes | Letterboxd | Filmow
Direção Fabrice Eboué
Duração 1h27min
Gênero(s) Terror, Comédia
Elenco Fabrice Eboué, Marina Foïs, Lisa Do Couto Texeira +
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