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Filmografia: Aaron Moorhead e Justin Benson

Já estamos no final de janeiro, mas isso não significa que as novidades acabaram aqui no blog do Horrorizadas. Além dos nossos três novos incríveis redatores (Tati Regis, Thaís Vieira e Allan Azevedo), também inicio hoje uma série de reviews onde pretendo analisar a filmografia de diretores dentro do cinema de gênero. E para começar essa nova jornada que pretendo manter a cada dois meses, aproveitei o recente lançamento de Synchronic para assistir e comentar sobre os filmes dirigidos por Aaron Moorhead e Justin Benson.


A dupla de diretores se conheceu em uma produtora de comerciais, onde trabalhavam como estagiários, e a partir de então realizaram diversos projetos juntos, dentre eles a criação da Rustic Films com o produtor David Lawson Jr. - um estúdio que pretende "fazer os filmes que ninguém mais faria", e é responsável por títulos incríveis como She Dies Tomorrow, After Midnight, e os quatro outros que falaremos a seguir.

 

Resolução Macabra (2012)

Resolution


O primeiro longa da dupla já apresenta diversos elementos e temáticas que serão trabalhados em seus futuros projetos: o terror atmosférico, beirando o cósmico, com baixíssimo orçamento e explorando acontecimentos realmente assustadores sem que precisem se apoiar em jump scares.


Filmado em uma cabana abandonada de uma das propriedades do pai de Justin, a trama segue a tentativa de um homem em livrar seu amigo de infância da dependência química. A iniciativa começa após Michael (Peter Cilella) ter recebido um vídeo de Chris (Vinny Curran) completamente alucinado, atirando em pássaros, abusando do crack, e colocando sua vida constantemente em risco.


Mas conforme a semana de abstinência vai passando, Michael começa a se envolver em algo bem misterioso, quando passa a encontrar áudios, fotos e filmagens de pessoas sofrendo, fazendo-o com que entre numa busca por significado para todos esses acontecimentos enigmáticos.



E essa crescente aflição só piora, uma vez que os dois se deparam com diversos indivíduos suspeitos, incluindo (mas não somente) uma dupla de traficantes, seguidores de uma religião OVNI e uma paciente de um hospital psiquiátrico situado pelas redondezas. Isso sem contar, é claro, nas próprias paranoias de Chris sobre satélites governamentais.


Com todas essas questões em mente, é possível imaginar os motivos pelos quais tantas pessoas aclamarem a dupla de diretores, embora não pareçam ser massivamente conhecidos. Mesmo com as óbvias limitações de recursos, eles foram capazes de produzir uma obra original, complexa e instigante.


No entanto, há críticas quanto a Resolution. A filmagem propositalmente amadora, a atuação engessada de alguns dos coadjuvantes, e até mesmo a falta de explicações diretas podem não agradar alguns espectadores, mas de maneira geral, são compensados pelas outras qualidades do filme.


 

Primavera (2014)

Spring


Com seus estilos definidos pelo longa anterior, a dupla de diretores decide arriscar no romance, mas sem perder suas identidades ou cair em clichês do gênero. Ambientado em um dos países mais românticos do mundo, a trama é uma espécie de conto de fadas (ou de monstros) que tenta discutir amor, relacionamentos e vida adulta.


A história começa a partir da fuga de Evan (Lou Taylor Pucci) para a Europa após uma série de eventos traumáticos: a morte de seus pais, a perda do emprego e a perseguição da polícia devido a uma briga de bar. Já na Itália, ele faz amizade com dois mochileiros britânicos, mas logo os abandona quando conhece a misteriosa Louise (Nadia Hilker).


Os dois passam a desenvolver um intenso relacionamento, compartilhando suas perspectivas de vida, experiências amorosas e segredos íntimos. Tudo isso enquanto exploram a pequena e pacata vila italiana repleta de paisagens naturais deslumbrantes. Quase como um Antes do Amanhecer sombrio.



Não é difícil de imaginar que há uma virada na trama. Com o passar dos dias, Evan começa a desconfiar cada vez mais do comportamento de Louise, devido aos seus desaparecimentos, suas condições de saúde e mudanças drásticas de humor. Mas diferente dele, nós espectadores sabemos exatamente o motivo desses acontecimentos, uma vez que temos visão do que acontece com ela em sua ausência.


Entretanto, mesmo com uma mitologia particular e extremamente interessante, a narrativa foge dos clichês de gênero para cair em clichês de representação feminina. Impossível para mim não apontar a falta de desenvolvimento e complexidade de uma personagem com tamanho potencial como Louise. Mesmo com todo o seu poder e experiências, suas características podem ser facilmente definidas como as de uma Manic Pixie Dream Girl.


E tamanha falta de profundidade me leva a sentir incômodo pelo final aberto do filme, uma vez que, mesmo vocalizando suas decisões e desejos ao longo do filme, seu estereótipo sugere que seguiria um rumo diferente em prol de Evan - que por sinal, apesar de ter uma construção um pouco mais complexa que ela, é um personagem medíocre, infantil e repleto de concepções equivocadas sobre relacionamentos e mulheres.


Mas apesar de não ser um filme que morro de amores, Spring ainda se destaca pela sua mítica relacionada a monstruosidade. Isso é, claro, se você não se incomodar com essas problemáticas já citadas, além dos efeitos visuais questionáveis e facilmente datados.


 

O Culto (2017)

The Endless


No terceiro longa em conjunto, a dupla decide "retornar às raízes", reutilizando conceitos e personagens já trabalhados em Resolution. Mas agora, focando a partir da perspectiva de dois irmãos que fugiram da religião OVNI brevemente apresentada no primeiro filme.


Importante ressaltar que, apesar de envolverem a mesma mitologia, os dois filmes funcionam bem separadamente. Inclusive, foi através de The Endless que conheci o trabalho dos dois diretores. Porém, sem sombra de dúvidas, tudo fica muito mais claro e fácil de entender se as obras forem assistidas seguidas e em ordem cronológica.


Mas voltando a trama, Aaron e Justin (interpretados pelos próprios diretores) são dois irmãos que embora tenham passado pelos mesmos eventos, passaram a enfrentá-lo de formas completamente diferentes. Enquanto o primeiro enxerga a experiência como um evento traumático na mão de uma seita suicida, o segundo vê o tempo entre a comunidade como os melhores dias de sua vida.



Tentando sobreviver a essa experiência e ao deslocamento no mundo real, os dois levam a vida através de subempregos e assistência governamental, até que em um fatídico dia recebem uma fita enigmática de uma das integrantes do grupo religioso que participavam. Tal acontecimento é o suficiente para reviver as feridas abertas entre eles, fazendo com que decidam revisitar o local na esperança de encerrarem esse capítulo.


Não é a toa que The Endless é o trabalho mais citado da dupla. Como já disseram em inúmeras entrevistas, os dois sempre tentam ao máximo fugir do que já foi trabalhado exaustivamente dentro do cinema de gênero. E dessa vez não foi diferente. Por mais que já existam inúmeras produções que usam seitas religiosas em suas tramas, aqui esse conceito acaba se tornando apenas um plano de fundo para algo muito mais complexo e assustador.


Com uma história concisa, bem conectada com o seu antecessor, e um amadurecimento visível na direção, o filme é um prato cheio para os fãs de terror e ficção científica. É claro que algumas atuações e efeitos podem parecer medianas se comparadas a grandes produções, mas nada que invalide a obra ou que não se justifique pelas suas limitações.


 

Sincrônico (2020)

Synchronic


Nesta última produção dos dois, é possível notar grandes diferenças se comparada aos seus filmes anteriores, principalmente na questão orçamentária. A começar pela dupla de protagonistas composta por Anthony Mackie (Black Mirror e franquia Vingadores) e Jamie Dornan (The Fall e franquia Cinquenta Tons).


Na trama acompanhamos dois paramédicos de Nova Orleans que se deparam com uma série de tragédias causadas por uma droga sintética com efeitos sobrenaturais - que inclusive referencia algumas das obras antecessoras. Mas como se não bastasse o estresse dessa nova ameaça, os dois ainda precisam lidar com intensos problemas pessoais: Steve Denube (Mackie) com a descoberta de uma grave doença e Dennis Dannelly (Dornan) com o desaparecimento de sua filha.



Não pretendo me alongar muito sobre Synchronic, devido ao seu recente lançamento, mas deixo o aviso de que apesar do investimento superior, o filme provavelmente não vá ser considerado como o melhor da dupla de diretores. Não sei se por uma questão de hype ou por uma necessidade de se encaixar nos desejos das produtoras, mas a sensação final é de que a criatividade de Aaron e Justin exala em situações de maior limitação, o que não é o caso desta nova produção dos dois.


É claro que isso não significa que o filme seja ruim, ou que não valha a pena de ser assistido. As discussões raciais, as atuações profissionais, os efeitos visuais e a escolha consciente de ambientar a trama em uma cidade com momentos históricos tão distintos são pontos altos na filmografia dos diretores, mas que podem se sobrepor aos elementos característicos que tanto admiramos em suas obras anteriores.


 

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