Filho mais velho do casal Anthony Perkins e Berry Berenson, Osgood "Oz" Perkins iniciou sua carreira no cinema aos 9 anos em Psicose II (1983), onde atuou como a versão jovem de Norman Bates, o icônico personagem interpretado por seu pai. Mas foi somente aos 41 anos que o ator fez sua estreia na direção, depois de alguns poucos papéis (sendo sua maioria na virada do século) e três roteiros assinados para outros diretores.
Atualmente, com três filmes já lançados e um quarto ainda sem previsão de lançamento, sua filmografia é marcada por histórias bem intimistas sobre luto, abandono, solidão e melancolia, com grande apelo estético e sonoro, dando um tom até mesmo poético para suas obras, o que se justifica no processo criativo do diretor, que sempre busca referências nas mais variadas manifestações artísticas. A seguir, comentamos sobre essas obras e o que podemos esperar sobre suas futuras produções.
A Enviada do Mal (2015)
The Blackcoat's Daughter
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Em seu longa de estreia, Oz Perkins abandona as estruturas narrativas padrões e nos leva a uma crescente tensão enquanto vamos aos poucos adentrando na história de três jovens, e como elas se conectam com a Escola Bramford, um internato católico só para garotas, durante o rigoroso inverno do hemisfério norte.
No primeiro núcleo, conhecemos Kat (Kiernan Shipka) e Rose (Lucy Boynton), duas alunas com personalidades bem contrastantes, que por diferentes motivos, acabam ficando uns dias a mais na escola, enquanto seus pais não aparecem para buscá-las. O problema, no entanto, é que Kat demonstra um comportamento peculiar e atípico, sugerindo que uma influência maligna está prestes a mudar drasticamente o destino das garotas.
Já no segundo núcleo, somos apresentados a errática Joan (Emma Roberts) e sua tentativa de fugir para Portsmith, fazendo com que conheça o casal enlutado Bill (James Remar) e Linda (Lauren Holly), que estão a caminho de Bramford para prestar homenagens durante o aniversário de morte da sua única filha. E por mais que não saibamos muito sobre Joan e seu passado nebuloso, temos sugestões com seus flashbacks e suas atitudes suspeitas.
Por mais que as temáticas de A Enviada do Mal já tenham sido muito exploradas dentro do cinema de gênero, é inevitável dizer que Perkins maneja muito bem suas influências com seu próprio estilo característico. As escolhas de locação, elenco e estrutura narrativa são grandes acertos que corroboram para que o filme se destaque entre as mesmices, e nos instigam a querer conhecer mais e acompanhar os futuros projetos do diretor.
O Último Capítulo (2016)
I Am the Pretty Thing That Lives in the House
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Nesse original da Netflix, Oz Perkins utiliza o conceito de casa assombrada para tratar sobre sentimentos e relações humanas de forma bastante sensível e intrínseca. E para isso, ele não só recorreu a suas origens, como também homenageou seu pai direta e indiretamente, como disse em entrevista ao Roger Ebert: "eu queria dedicar esse filme para o meu pai como uma forma de continuar explorando nosso relacionamento".
E se você é um fã de literatura clássica brasileira, ou ao menos conhece um pouco sobre realismo literário, com certeza vai achar o início de O Último Capítulo bem familiar, uma vez que o filme começa com um relato póstumo da protagonista Lily Saylor (Ruth Wilson), uma jovem cuidadora domiciliar que há menos de um ano se mudou para a casa de Iris Blum (Paula Prentiss), sua nova paciente que ganhava a vida escrevendo livros de terror.
Em seu relato, já somos avisados que Lily se muda três dias depois de completar 28 anos, e que nunca irá completar 29, revelando assim sua morte inevitável. Mas diferente um thriller policial/investigativo qualquer, continuamos a assistir não para saber as causas ou autores da sua morte, mas sim pela sua jornada e descoberta nesse ambiente tão opressivo, que a obriga a confrontar seus maiores medos (sejam eles naturais ou sobrenaturais).
Seu caráter lírico e seu desenvolvimento slow burn podem realmente não agradar a todos os espectadores, principalmente os que gostam de filmes de assombração repletos de ação e sustos, mas promete satisfazer aos fãs da obra anterior do diretor, que novamente não se apoia nos tropos e clichês do gênero, mesmo que faça uso de premissas já conhecidas. Seu estilo cinematográfico fica ainda mais evidente e bem estabelecido, demonstrando que não é criador de uma obra só, e que já podemos criar expectativas.
Maria e João: O Conto das Bruxas (2020)
Gretel & Hansel
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Em seu terceiro longa, Oz Perkins assina o roteiro ao lado de Rob Hayes, em uma audaciosa adaptação do conto João e Maria. Mas diferente da história registrada pelos irmãos Grimm, o filme foca muito mais nas questões do feminino e do empoderamento, desviando da óbvia rota violenta e cheia de gore que a fábula sugere. "A ideia sempre foi honrar o público mais jovem", diz o diretor em entrevista ao Bloody Disgusting.
Na trama acompanhamos Gretel (Sophia Lillis), uma jovem que está começando a vivenciar as cobranças da vida adulta, e seu irmão mais novo Hansel (Samuel Leakey). Abandonados pelo pai, ela é obrigada a sair pela floresta em busca de uma vida melhor com o caçula, uma vez que sua mãe já não tem mais condições financeiras, e até mesmo psicológicas, de cuidar das duas crianças.
Famintos e desamparados, eles são acolhidos por um lenhador que passa as coordenadas de onde os irmãos conseguiriam encontrar boas oportunidades. Mas no meio do caminho para essa terra prometida, eles encontram uma cabana isolada, equipada com um imenso banquete e uma anfitriã (Alice Krige) que oferece muito mais do que eles poderiam imaginar.
Apesar de ainda conter algumas das características principais do diretor, Gretel & Hansel segue contrário a subjetividade de suas obras anteriores, sendo extremamente expositivo e completamente dissonante de toda a ambientação e aura de estranheza que estava sendo construída. Por mais que se note escolhas criativas ousadas e curiosas, a sensação final é que o filme decepciona por não ter sido tudo o que poderia.
Incident at Fort Bragg
Inspirado em uma história real, o filme acompanha o padre irlandês Malachi Martin em Fort Bragg (uma das maiores instalações militares do mundo), na Carolina do Norte, durante a realização do exorcismo em um jovem soldado. O longa tem o roteiro original de Evan Turner e Harrison Query, adaptado por Jeff Buhler, e conta com Beau Flynn como produtor.
O filme ainda não possui data de estreia ou maiores informações divulgadas, mas dado o histórico do diretor, podemos esperar uma tentativa genuína de fugir dos lugares comuns, apesar de ainda trabalhar temáticas já muito conhecidas dentro do cinema de gênero, além de cenários impecáveis, personagens intrigantes e bem construídos, e um grande foco nas emoções e relações humanas.
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