Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror
- Tati Regis
- 20 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Escrevo essa resenha em ĆŖxtase e penso que nĆ£o poderia ser diferente. Como mulher, negra e fĆ£ do gĆŖnero horror, crescer vendo tais filmes e saber que um dos seus serĆ” o primeiro a morrer ou usado de diversas formas estereotipadas e ridĆculas, nĆ£o foi nada bom. Principalmente quando vocĆŖ adquire consciĆŖncia de si, de raƧa, de ser humano e percebe que muitos dos estereótipos retratados nos filmes moldam sim o comportamento sociocultural. O meu entusiasmo tem um motivo e ele se chama mudanƧa.
Horror Noire é um documentÔrio dirigido por Xavier Burgin e baseado no livro homÓnimo da Dra. Robin R. Means Coleman, que foi lançado originalmente nos EUA em 2011 e em 2019 no Brasil pela editora DarkSide Books. O livro faz um panorama sobre a representação do negro no cinema de horror desde 1890 até o presente. Não muito diferente, o documentÔrio que chamarei aqui de necessÔrio, começa falando de O Nascimento de uma Nação (1915), filme que é considerado pelos negros como o primeiro filme de terror.

Com presenƧas da própria Coleman e diversos Ćcones de representatividade negra sejam estudiosos, pesquisadores, cineastas e atores, o documentĆ”rio traz entrevistas aprofundadas com aspectos socioculturais e polĆticos de vĆ”rias Ć©pocas. AlĆ©m de analisar diversos filmes, o documentĆ”rio faz tambĆ©m uma profunda jornada pela história negra nos EUA se confundido atĆ© com o terror negro, como coloca muito bem a pesquisadora Tananarive Due. Seja como ameaƧa a sociedade ou Ć mulher branca; seja retratado como monstros, escravos, selvagens ou tendo sua religiosidade demonizada diversas vezes; ou atĆ© praticamente sumindo das produƧƵes atĆ© voltar no final da dĆ©cada de 60 com o icĆ“nico e importantĆssimo A Noite dos Mortos Vivos (1968, George Romero) com o protagonismo do ator Duane Jones.
Horror Noire tambƩm faz um breve panorama do que foi o movimento blaxploitation na dƩcada de 70 e Ʃ inevitƔvel pensar de como o racismo nos EUA estƔ inteiramente ligado a essas produƧƵes. A possibilidade de trazer o protagonismo negro para diferentes papƩis e atƩ se apropriando de grandes clƔssicos do terror como Blacula. PresenƧas marcantes e nostƔlgicas de depoimentos de Richard Lawson e William Craine.

Pensar essas coisas até aqui e às vezes até discutindo junto com o "elenco" no documentÔrio, é bem doloroso ao mesmo tempo que é poderoso por dividir as mesmas angústias, medos, anseios e esperanças de uma nova perspectiva e um novo olhar a partir de filmes da década de 1990 como Tales From The Hood, Eve's Bayou e até de certa forma o Candyman. Foram filmes que trouxeram uma certa luz para a reflexão sobre problemÔticas no gênero e do povo afro-americano culminando nos anos 2000 com algumas produções que jÔ refletiam essa mudança de olhar. E quando falam em Corra! (2017) e todo o impacto que o filme traz, é bonito de ver a esperança no olhar. Ouvir Jordan Peele falar que agora as histórias são sobre nós e para nós, dÔ uma aquecida no coração.
O bacana é que mesmo abordando um tema tão pesado, o documentÔrio consegue ser leve com senso de humor. Tanto o livro quanto o filme são extremamente necessÔrios não só para o fã negro do cinema de terror americano, mas também para qualquer um que se interesse por contexto histórico e cultural.
O filme foi assistido na abertura do Cinefantasy 11 através da plataforma de streaming Bela Artes à La Carte, que acontece entre os dias 16 a 29 de Abril.

Horror Noire: Uma História do Horror Negro (2019)
Horror Noire: A History of Black Horror
IMDb | Rotten Tomatoes | Letterboxd | Filmow
Direção Xavier Burgin
Duração 1h23min
Gênero(s) DocumentÔrio
Elenco Robin R. Means Coleman, Richard Lawson, William Craine +