Eles invadem o cemitério, encontram um medalhão de ouro pendurado num tronco, um deles guarda-o no bolso da calça. E assim, assinará a própria sentença de morte e a dos seus amigos. É que sem saber despertam um assassino implacável, sanguinário: só para quando tudo ao seu redor estiver morto.
Chris Nash, diretor de In a Violence Nature, não é original ao utilizar o ponto de vista do serial killer como veio narrativo. Outros diretores antes dele se utilizaram de tal técnica, mesmo que brevemente: Hitchcock com Psicose, Carpenter com Halloween--só para citar alguns mais célebres. E tanto Psicose e Halloween compartilham de motivação semelhante: dar a chance ao público de adentrar momentaneamente na cabeça de um assassino. Um vislumbre de uma mente ensandecida, mas que, ao mesmo tempo, é fria, calculista. E ambos chocaram em suas respectivas épocas: o primeiro pela cena memorável do banheiro com Janet Leigh e Norman Bates com seu complexo de Édipo nos revelando finalmente a face de sua mãe; o segundo pela ousadia de mostrar um psicopata mirim em ação—mesmo que figurativamente. In a Violence Nature, é no mínimo audacioso ao dar a uma casa velha uma pintura nova.
Nos primeiros minutos da película, é interessante acompanhar o raciocínio do homicida grandalhão, bem como a sua caçada aos jovens profanadores de tumulo por aquela floresta interminável. Porém, aos poucos, isso vai se tornando cansativo quando o mesmo não diz nada e a visão daquele mundo é reduzida a ele, prejudicando assim a agilidade da narrativa e a nossa vontade de prosseguir com ela. Afinal, precisamos torcer pela sobrevivência de alguém, não é mesmo? E ali não há ninguém para torcermos. As vítimas possuem zero carisma. Tão logo nos dão oi, tão logo nos dão tchau como passageiros de rostos homogeneizados. Quando a estória terminar, você se lembrará mais das mortes chocantes, de como elas foram executadas, do que dos rostos de seus mártires e de seu executor.
Em contrapartida, as mortes são brutais: corpos esguichando sangue feito fontes d'água, sendo desmembrados, retorcidos, esmagados, picotados em mil pedaços. A inventividade que um bom slasher tem de ter. Há uma morte específica, a mais cruel do longa, qual carrega juntamente o velho vício patológico do terror americano: o de sempre dar às minorias (pessoas negras, LGBTT+ e afins), geralmente, as primeiras mortes e as mais cruéis. Isso fica escancarado quando uma das personagens se insinua lésbica/bissexual e minutos depois tem uma morte escatológica. Uma morte de embrulhar o estômago.
Em vários momentos, o diretor usa das convenções do gênero para manipular nossa expectativa. Um exemplo, claro, é lá pelos minutos finais, quando uma única pessoa sobrevive. Nesse ponto, nossa experiência pregressa é acionada. Somos tomados por uma tensão crescente. Algo visto antes está prestes a se cumprir, até o diretor contradizer a cartilha, nos dizendo, Nada disso, esse filme não acabará como vocês estão pensando! E assim acontece. Nossas expectativas vão por terra. Algumas pessoas com certeza irão se frustrar. E entendo. Aguardavam uma coisa e receberam outra. É sempre uma experiência única quando uma obra para o bem ou para o mal nos surpreende. Mesmo essa sendo uma casa velha, cujos os alicerces empenados, foram apenas pintados.
Direção: Chris Nash
Duração: 94min
Elenco: Ry Barrett, Andrea Pavlovic, Cameron Love, Reece Presley,Liam Leone,
Charlotte Creaghan, Lea Rose Sebastianis, Sam Roulsto.
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