Em Ménage, filme de estreia de Luan Cardoso, temos três políticos que se metem numa tremenda confusão depois que uma garota de programa aparece morta na piscina do motel em que estavam Roberto (Francisco Gaspar), Ariel (Vinícius Ferreira) e Veiga (Lino Camilo). A noitada, regada a sexo, muito álcool, drogas, revelações, traição e mortes, muda de certa forma a vida desses três eméritos rapazes.
Roberto é um daqueles empresários que adora se meter em política. É dono de uma “agência de talentos” que promove festinhas corporativas para colocar em prática sua politicagem e seus negócios escusos. Ariel, político de carreira, já passou por várias instâncias do poder e gosta de fazer lobby seja com outros partidos ou com organizações populares. Veiga é advogado e vem de uma família tradicional de usineiros e políticos de Alagoas. Traz consigo a herança dos coronéis e do jeito violento de se resolver as coisas, ou seja, na bala.
Todos os três são filiados ao mesmo partido político, o minúsculo PRFB fundado por Andreia (Ana Souto). Ela é o que se pode chamar de a mandachuva do pedaço, pois tem a velha política de conchavos no sangue, o que leva seu inexpressivo partido a uma ascensão e a arriscar a candidatura de Veiga. Mas, como já disse, os acontecimentos da fatídica noitada, acaba desencadeando desdobramentos surreais na vida dos três, seja pessoal ou pública.
A história se mistura entre passado e presente, sonho e realidade. Tentar entender o que se passa pode te tirar da experiência imersiva e onírica que é Ménage. Recomendo se deixar levar nessa catarse em forma de crítica a um (sub)mundo cheio de cidadãos de bem. Um mundo em que, quem tem mais poder manda. Corpos femininos são constantes na trama, afinal, são três homens que acham que tem o direito de usar e abusar das mulheres, sejam no sexo ou na política. Apesar disso, há um cuidado e uma preocupação em não fetichizar esses mesmos corpos repetindo velhos e ultrapassados recursos gráficos.
É nítido que a intenção aqui é denunciar, não só a escrotidão de certos políticos de fazer política, mas também esse abuso e essa violência sofrida por mulheres que acabam fazendo parte disso, como é o caso da prostituta morta, Manoela (Lorena Anderáos). Igual a ela temos Maria Cristina (Elisa Telles) e muitas outras que integram uma agência de talentos que agenda encontros íntimos com políticos e se veem presa nessa engrenagem. Um negócio milionário que envolve bem mais que festinhas para eventos corporativos.
Ménage com sua trama ágil e carregada de críticas a um mundo que todo mundo sabe que existe, mas prefere varrer pra debaixo do tapete, merece ser visto, revisto e discutido. Ele vai além de seus 86 minutos. A trilha sonora original é de Kiko Dinucci e agrega mais valor ainda a essa produção independente da Quixó Produções. Que boas ideais assim sejam cada vez mais apoiadas, divulgadas e premiadas.
O filme estará disponível gratuitamente na programação do XVII Fantaspoa através da plataforma de streaming Wurlak/Darkflix, entre os dias 09 e 18 de Abril.
Ménage (2020)
IMDb | Letterboxd | Filmow
Direção Luan Cardoso
Duração 1h26min
Gênero(s) Thriller, Drama
Elenco Vinícius Ferreira, Francisco Gaspar, Lino Camilo +
Uau! Adorei sua crítica. É muito interessante ouvir das pessoas como o filme chega nelas. Obrigado pelo texto. :)